Deveríamos Matar o Agile Coach?

Navegando na timeline do Facebook eu me deparei com esse questionamento. Achei engraçado num primeiro momento mas, depois, fiquei matutando sobre esta pergunta. E por quais razões deveríamos matar o agile coach? Por que todo esse ranço no coração?

Alladin e o Tapete Mágico

Em qualquer ambiente em que eu conduzo uma transformação ou times, o primeiro recado que eu dou é:

O meu trabalho é chacoalhar o tapete persa no meio da sala até sair toda a poeira que eu sei que está escondida debaixo dele. Isso é um processo que pode doer, mas vai passar.

Neste instante eu imagino a mente das pessoas pensando em procurar no Google como enviar uma carta bomba! E por que? Um dos primeiros passos de um processo de transformação é o levantamento dos problemas. Dificilmente alguém quer falar de forma aberta sobre eles! Culturalmente, problemas são coisas ruins que as pessoas não podem levar para os seus chefes.

Não me traga problemas, traga soluções

Você já deve ter ouvido ou lido essa frase. Também já deve ter sido chefiado por alguém que usa essa linha de pensamento para questionar a tão falada proatividade das pessoas. Mas isso é uma bola de neve! Como é que alguém pode levar uma proposta de solução aceitável se os objetivos não são claros? Naturalmente, os problemas viram poeira debaixo do tapete.

Aqui vem o primeiro diferencial do trabalho do agile coach neste momento de mudança: ajudar o sistema a realizar uma análise do contexto, baseada em objetivos bastante claros. Muitas vezes fui contratado por que “TI não entrega”. E a primeira ação relacionada a esse problema é contratar mais pessoas, alocar terceiros ou fábricas de software. Mas será mesmo que 9 mulheres grávidas entregam um bebê em um mês? O trabalho do agile coach é questionar até descobrir as causas mais profundas desta não entrega. Será que não estão entregando mesmo ou estão entregando as coisas erradas? Será que estamos fechando os olhos para ofensores externos? Será que falta estratégia para guiar essas entregas?

Transformação e a Arca de Noé

Um erro comum de muitos agile coaches é criar uma Arca de Noé e destruir tudo o que foi feito. Primeiro, dizer que o que estava sendo feito antes está errado é, no mínimo, desrespeitoso com as pessoas que estão ali. No caso do argumento “TI não entrega”, quando o agile coach assume a postura de que tudo estava sendo feito de forma errada, ele concorda cegamente com essa frase.

E nasce a resistência!

É preciso ter cuidado e respeito com a história das pessoas que estão ali. É preciso entender o contexto e começar a fazer pequenas melhorias no processo. Sim, eu sei que o coach precisa mostrar a que veio. Aqui gosto bastante do viés evolucionário do Kanban. Precisamos começar com o que temos e vamos evoluindo Isso é uma forma de respeito, de conseguir engajamento e de fazer com que todos comprem a mudança.

Aliás, vamos relembrar os quatro princípios fundamentais do Kanban:

  • Comece com o que você faz agora;
  • Busque mudanças evolucionárias;
  • Inicialmente, respeite papéis, responsabilidades e cargos atuais;
  • Incentive atos de liderança em todos os níveis.

Olha só que fantástico! É puro respeito! O agilista que entra em uma empresa mega hierárquica não sobrevive muito tempo se a primeira coisa que ele diz é que é preciso horizontalizar a gestão. Vamos com calma, jovens! Tirar o crachá das pessoas pode causar a Terceira Guerra Mundial. Contra você mesmo!

Por favor, coaches! Não mexam no queijo da cadeia alimentar de cara!

Meu Framework, Minha Vida

Estamos cansados de ver agilistas defendendo o framework A ou o B, como a resposta para todos os problemas. Calma lá! Estamos falando de frameworks e não de receitas de bolo. E, mesmo seguindo receita, o bolo ainda corre o risco de ficar embatumado, se o meu forno tiver algum problema ou se eu ficar abrindo a porta toda hora. Certo?

Estamos na era da customização e receitas não são bem vindas nestes tempos. Por isso é tão importante uma abordagem evolucionária que sustente a mudança. Da mesma forma que pregamos o teste, feedback e adaptação de produtos, devemos fazer exatamente a mesma coisa com o modelo de atuação. Desta forma, tão importante quanto a análise de contexto é a caixa de ferramentas que o coach ágil carrega de um cliente para o outro. Se a variedade de experimentação destas ferramentas não é profunda, qual é a propriedade do coach para sugerir uma estratégia de atuação?

Nunca se esqueça de que você é contratado para acelerar resultados de entregas e não instalar um framework ou processo. Esse segundo modo de atuação é muito 80’s para ser usado em 2019!

Agile Coach Express

Nunca na história da humanidade foi tão fácil ter acesso ao conhecimento. Se estivermos dispostos, podemos ser inundados de ondas de conhecimento diárias. Posts, Meetups, Compartilhamento de Experiência, Podcasts, Eventos… Mesmo que o agilista tenha conhecimento, pode ser que ele não saiba muito bem o que fazer com ele.

Um coach precisa ter horas de voo (vivo dizendo isso) e de experimentação, por que suas sugestões precisam ser baseadas nas suas experiências em contextos diferentes. E aí está a diferença qualitativa de uma caixa cheia de ferramentas.

Lembre-se: conhecimento pode ser certificado; experiência é acumulada na linha do tempo.

Então, estamos falando do policial bom e do policial mau?

Não! Costumo dizer que tudo na vida é uma questão não de “o que”, mas de “como”.

  • Estou falando de expor problemas, e não pessoas;
  • Estou falando de mudanças, mas com respeito por todos;
  • Estou falando de flexibilidade;
  • Estou falando de conhecimento (quantidade) aliado à experiência (qualidade) para que todo esse tal processo de transformação doa, sim, por que sair da zona de conforto dói. Mas que essa dor passe e que todos caminhem para o próximo estágio.

E, principalmente, que o processo de evolução (olha só como é mais leve que “transformação”) se perpetue. Sem que ninguém seja morto, incluindo o agile coach! E, sem considerar esses quatro pontos, o mensageiro da mudança já era! 😉

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Marcelo L. Barros

Olá! Sou um cara criativo, curioso e detalhista, que, cada dia, mais se vê interessado em desvendar os mistérios desse "bicho gente"! Comecei minha carreira profissional em 1996, sou formado em Processamento de Dados pela FATEC de Santos. Naquela época tudo o que eu queria ter na minha frente era um computador e uma desafiadora regra de negócio, que se transformaria no melhor programa possível. Mas as coisas mudam! Concluí que quem faz software com qualidade são as pessoas e não as máquinas. Hoje, minha MISSÃO é ajudar pessoas e times a alcançarem seus objetivos, pois acredito que o sucesso pessoal e profissional está ligado a três pilares: FELICIDADE, MOTIVAÇÃO e SENTIDO. Como faço isso? 💡 MOTIVANDO pessoas, fazendo-as enxergar o 💡 SENTIDO das suas ações, que traz 💡 FELICIDADE por fazerem a diferença em suas vidas, suas empresas. Sou formado em Coaching pelo ICC e escrevo artigos sobre Métodos Ágeis, Comportamento, Inovação e Coaching. Vejo no lúdico a forma mais profunda de aprendizado. Procuro sempre conduzir reuniões de forma criativa, que tragam algum tipo de aprendizado aos participantes, seja por meio de dinâmicas de grupo ou jogos em equipe. Neste quesito, desenvolvi um jogo, a "Feijoada Ágil", para ensinar conceitos sobre trabalho em equipe. Se você, como eu, também acredita que eu posso te ajudar, deixe-me saber! Vamos tomar um café e, quem sabe, juntos podemos MUDAR O MUNDO!

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