Gosto de escrever aos finais de semana! Gosto de dizer que os finais de semana são dias de sincericídio… 🙂
Desde que o mundo é Ágil (ou tenta ser) eu tenho assistido (e participado) de várias discussões envolvendo papéis, cargos e salários. Mas será que estamos adotando a melhor estratégia em nossas carreiras?
Há muito tempo atrás, fui convidado para liderar uma iniciativa de implantação do modelo CMMi em uma fábrica de software. Obviamente eu já estava de olho na oportunidade e fiquei muito feliz em saber que eu era o escolhido. O meu primeiro erro de estratégia foi ficar tão cego com a notícia que a minha primeira frase após saber dela foi:
E de quanto vai ser o meu aumento?
Eu sempre digo que tive muita sorte por ter encontrado, ao longo da minha carreira, não apenas chefes ou líderes, mas grandes mentores que estavam genuinamente preocupados em me ajudar a ser um profissional (e uma pessoa) melhor! Neste episódio que acabei de contar, meu líder me olhou bem no fundo dos olhos e disse:
Pensar que apenas uma mudança de papel é o critério para um avanço salarial é um pensamento um tanto míope. Você deveria considerar a oportunidade, os desafios, o aprendizado e fazer experimentos. Valorize a jornada e não a linha de chegada. A tua jornada é o que vai definir o teu “valor”.
Obviamente, naquele momento, eu fiquei possesso! Eu não devia ter 30 anos, queria mais era ganhar dinheiro, como se só isso bastasse. E me bastava, na época! Mas eu sorri, agradeci e fui estudar CMMi loucamente. Foi um trabalho duro, com erros e acertos. Mas tirar o foco do reconhecimento financeiro me trouxe um ganho muito maior: fui tomado por uma sede de saber e conhecer múltiplos contextos para tomar decisões. Hoje chamam isso de “pensamento sistêmico” e me ajuda diariamente a fugir de visões míopes de um problema.
Preciso dizer que, tempos depois, tive reconhecimento financeiro, baseado na minha entrega, não no meu papel dentro da empresa.
Nesta mesma empresa criei o hábito de pedir feedback aos meus líderes de tempos em tempos. Num primeiro momento, parecia “a hora de pedir aumento”. Afinal, ainda tinha o estigma daquela conversa emblemática. Foi então que propus um plano.
Eu sei que preciso de desafios de aprendizado o de comportamento que me transformem em um profissional mais completo e, consequentemente, de maior valor. Então, gostaria de fazer um plano com objetivos (que possam ser perseguidos). E depois falamos de grana.
Por um segundo, quando eu me ouvi dizendo isso, eu pensei que estava ficando completamente maluco, mas não consegui me impedir. Já estava feito. E fiquei muito surpreso quando a pessoa que estava do outro lado da mesa tirou uma folha de papel da gaveta e começou a desenhar um plano comigo. Com o tempo, o atingimento desses objetivos se traduziu em aumentos de salário (foi um plano longo).
Eu estava preocupado com o meu aprendizado e meus desafios. Por ser PJ, eu não tinha uma trilha de cargos. E tudo bem, a partir desse momento. A única coisa que eu sempre brincava (de verdade) com o meu líder é que eu nunca sabia o que dizer pra moça dos crediário das Casas Bahia, quando me perguntava sobre a minha profissão. Mas, de verdade, não doía mais.
Aí chegou essa tal de Agilidade na minha vida, sendo um divisor de águas tanto profissional quanto pessoalmente. E o que eu achei mega interessante é que o pensamento ágil falava de papéis e não de cargos. E eu super abracei essa questão de papéis.
Cada hora eu tinha um papel diferente, em contextos diferentes dentro da empresa. Eu era o Scrum Master de um projeto com um grande cliente, enquanto era o Professor que ensinava o pensamento ágil para outras áreas da empresa. Em outros momentos eu era a pessoa das Mídias Sociais ou o cara do Endomarketing. E tudo bem! Tudo ótimo! Pensar dessa forma me trouxe não só conhecimento, mas contato com pessoas diversas, de culturas diversas. Isso me permitiu levar o Pensamento Sistêmico para o próximo nível.
Algum tempo depois, atuei na mentoria de uma pessoa para o papel de Product Owner. Essa foi uma das experiências mais recompensadoras da minha carreira: enxergar potencial em alguém e trabalhar pontos de melhoria para que alguém mudasse completamente de carreira. Lembro que a primeira coisa que essa pessoa me perguntou foi:
Mas na minha carteira vai mudar meu cargo pra PO?
I’ve heard it all before! E repassei a mensagem que eu recebi anos atrás. Hoje essa pessoa continua sendo PO, em outras empresas, com uma carreira linda de se ver!
Mas, Marcelo… Você tem mudado bastante de trabalho…
Ah, sim! Tem toda razão! Tenho estado em uma busca, mas não por um cargo ou salário. Hoje afirmo com certeza que sou orientado a um propósito. E, nessa jornada, preciso reunir pessoas e empresas que me ajudem a materializá-lo.
Em outras palavras: eu passei por empresas sensacionais nos últimos anos. Não tenho do que reclamar delas. Mas, eventualmente, elas não me proporcionaram o ambiente adequado para que eu pudesse exercitar habilidades que eu precisava. E tudo bem! Em cada uma dessas casas conheci pessoas fantásticas, que levarei comigo pro resto da vida.
Hoje eu me considero um solucionador de problemas diversos. Motiva-me resolver problemas para pessoas e empresas. Assim, preciso de um sistema e de pessoas que viabilizem isso. Isso significa que eu preciso ter uma visão ampla de tudo e que me seja permitido ser multifacetado em ações, independente do papel ou cargo que ocupo. Isso não significa que eu quero uma caixinha: eu quero várias! E de diversas cores, formatos e tamanhos.
A forma como eu faço as minhas entregas neste sentido trazem uma recompensa enorme. E isso se traduz em grana de forma natural e por consequência.
Sou sortudo? Demais! Mas você precisa saber que o Profissional do Futuro, além de não ser apegado a hierarquias (apesar de que elas são necessárias em alguns ambientes), precisa de algumas competências para que seja um Profissional Necessário e Desejado pelo mercado:
- Pensamento Crítico, para identificar oportunidades de geração de valor
- Pensamento Sistêmico, para dar um passo pra trás e enxergar o todo
- Flexibilidade Cognitiva, para se adaptar facilmente a constantes transformações do mercado, resolver problemas complexos e tomar decisões
- Execução Inovadora, com foco na execução mais do que na ideação, para ter um feedback rápido
- Conhecimento do Comportamento Humano, com liderança situacional, inteligência emocional e trabalho em equipe
- Criatividade, para criar, inventar, inovar em várias áreas
Faça um experimento: tente mudar a forma como você vê o seu trabalho. Transforme sua experiência em uma jornada. Descubra o seu propósito e cerque-se de um ambiente que possibilite exercitar esse propósito. E, se não der certo, não se abata. Siga em frente, sempre de cabeça erguida.
É, no mínimo, libertador!
Que post maravilhoso! era tudo o que eu precisava ler hoje!
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Obrigado, Paula!!
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