Agile Coaching: pensando fora da caixa

É realmente fantástica a forma dinâmica como recebemos insights poderosos hoje em dia, nos momentos certos. Hoje, no facebook, o amigo Celso Martins fez uma pergunta simples e sensacional:

E se tirarmos a Sprint?

Simples e complexa, certo?

Existem muitos agilistas que achariam essa pergunta uma heresia com o Scrum. Você deve conhecer alguém que pensa desta forma. Mas será que, como Agile Coaches, não estamos justamente fazendo algo que nos orgulhamos de não praticar, ou seja, não estaríamos pensando dentro de uma caixinha de um método?

Veja, não sou contra métodos ou frameworks. Sou contra qualquer tipo de fanatismo ou modismo corporativo.

Em começo de carreira, todo Scrum Master precisa de uma caixinha, uma base para seguir e se nortear. Mas, com o tempo de experiência em diversos projetos e clientes, o Scrum Master precisa passar por um novo processo de pensamento fora da caixa: o pensamento fora do framework!

Durante a nossa carreira, estudamos quase que o tempo todo. Fazemos formações e certificações. Lemos livros, blogs, participamos de eventos. E, certamente, temos que fazer experimentos com todo esse conhecimento adquirido. Começamos a perceber que, talvez, o que o framework minimamente recomenda pode não ser tão interessante per se para aquele ambiente específico.

E aí que a brincadeira começa a ficar divertida! É aí que começamos a agregar ou substituir práticas. Sem nenhuma intenção de acertar na primeira tentativa. Como eu costumo dizer, não existe falha; existe feedback!

Sinceramente, acredito que é neste lugar que reside a diferença entre o Scrum Master e o Agile Coach: na sua experiência, capacidade e segurança para propor, instruir, aprender e adaptar os frameworks a ponto de criar o seu próprio método, único e exclusivo para cada time que facilita.

Vejo muitas pessoas que passam por experiências muito rápidas como Scrum Master ou Facilitador e já atualizam seus LinkedIns com o “cargo do momento”, por que elas acreditam que pensam fora da caixa.

Isso pode parecer um tanto duro, mas, se você é um profissional novato, que baseou a sua carreira em startups com puffs e videogames, talvez você não pense fora da caixa. Apenas pelo fato de que nunca te colocaram em uma caixa diferente! Simples assim!

Agora, se você veio do mundo de gestão cascateada de projetos e está se aventurando no mundo da Agilidade, aí acredito que você esteja saindo de uma caixa. E que pode, sim, aproveitar sua experiência anterior para agregar valor aos teus times. Tudo isso com um novo mindset.

Mas, se você pegar o Scrum Guide e achar que ele é a resposta para todos os problemas de todos os projetos de todas as empresas, bem… Você está começando a cair em uma Zona de Conforto, a qual todo agilista diz que precisamos fugir a todo custo!

O que transforma qualquer agilista em um Agile Coach são as suas horas de voo com qualidade. Entenda como horas de voo com qualidade a diversidade de times, projetos e empresas. Quanto mais diversa a sua experiência nesta tríade, mais você vai ser forçado a estudar e mais vai experimentar. Pois você chegará, naturalmente, à conclusão de que não existe uma resposta padronizada para problemas complexos.

Voltando, não sou contra frameworks. Não sou contra o Scrum. Sou contra o pensamento uniforme e padronizado. Você já perguntou pro seu time por que ele faz sprints? Se a resposta demora um pouco pra vir ou se você percebe um certo titubear no discurso, talvez esteja no momento de se perguntar se o time está usando as práticas por que tem um chato (no caso, você mesmo) que cobra dele a aderência, ou se realmente as práticas fazem sentido para maximizar a entrega de valor. Maximizar a entrega de valor: esta é a tua finalidade.

Certa vez, visitei uma área de marketing que colocava as campanhas em sprints. Entretanto, as pessoas ficavam mega frustradas por que o processo criativo delas não cabia dentro de uma sprint.

Foi aí que eu fiz uma pergunta muito simples:

No teu job description tá escrito que você deve entregar sprints ou campanhas?

Isso é muito comum em vários sentidos! Esquecemos os fins para focar nos meios. Por que nos focamos em hábitos confortáveis. E eu me incluo muito nisso! Vou fazer aqui uma confissão inédita: eu sou uma criatura de hábitos! Nos últimos tempos tenho procurado desafios que me afastem dos meus hábitos. Pois meus hábitos me levam pra uma zona de conforto que não me faz evoluir.

Quando fiz a pergunta acima para as pessoas do marketing, eu ganhei um abraço. Por que surgiu um insight poderoso sobre o que a área entregava para a companhia. O Facilitador deste time deveria estar de olho nos desafios enfrentados e, através do processo de inspeção e adaptação, deveria tirar práticas do seu toolbox que permitissem que o time tivesse opções de maximizar o valor que está entregando. E não apenas seguir um processo.

Veja que este facilitador se enfiou junto com seu time dentro da caixinha do Scrum! Mas será que este é o framework mais adequado para que o time de marketing entregue valor à empresa, sem frustrações? Se não fosse, quais seriam as opções? O papel do Facilitador é exatamente o de provocar constantemente esse tipo de reflexão nos seus times.

Costumo dizer que:

Métodos Ágeis são um exercício de desapego: do que não funciona e do que é confortável. E isso pode doer um pouco, mas passa…

E é tão difícil desapegar de hábitos nocivos quanto de hábitos confortáveis. Pergunte a um fumante se é fácil parar com o vício e se é confortável fazer isso de uma hora pra outra? Obviamente, não, mas haverá um ganho futuro.

Pra mim, esta é a magia da agilidade. Como agilistas, precisamos conhecer profundamente os Valores e Princípios Ágeis. O resto é estudo, inspeção, adaptação e experimento. Este é o caminho do coach ágil.

Essa é a minha missão: fornecer ferramentas e apoio aos agilistas que querem pensar fora de todas as caixinhas. Pensando nas pessoas que iniciaram neste caminho, juntei-me aos amigos agilistas Thiago Pereira, Ivan Ferraz, Gustavo Neves e Ademir Silva para criarmos o grupo Descomplicando Agilidade, no Telegram. A nossa ideia é facilitar a troca de conhecimento para que as pessoas comecem a desenhar seu próprio caminho como coaches ágeis, através de eventos presenciais e online.

Então, se você está mesmo a fim de fazer a diferença nos times que facilita, continue ligado nos posts do blog e nos eventos do Descomplicando Agilidade. E vamos todos jogar fora todas as caixinhas!

Ah! Já ia esquecendo de responder a pergunta do Celso! E se tirarmos as sprints, colocarmos trens, carros ou cavalos, tudo bem, desde que tenhamos uma versão melhorada da entrega de valor! 🙂

Marcelo L. Barros

Olá! Sou um cara criativo, curioso e detalhista, que, cada dia, mais se vê interessado em desvendar os mistérios desse "bicho gente"! Comecei minha carreira profissional em 1996, sou formado em Processamento de Dados pela FATEC de Santos. Naquela época tudo o que eu queria ter na minha frente era um computador e uma desafiadora regra de negócio, que se transformaria no melhor programa possível. Mas as coisas mudam! Concluí que quem faz software com qualidade são as pessoas e não as máquinas. Hoje, minha MISSÃO é ajudar pessoas e times a alcançarem seus objetivos, pois acredito que o sucesso pessoal e profissional está ligado a três pilares: FELICIDADE, MOTIVAÇÃO e SENTIDO. Como faço isso? 💡 MOTIVANDO pessoas, fazendo-as enxergar o 💡 SENTIDO das suas ações, que traz 💡 FELICIDADE por fazerem a diferença em suas vidas, suas empresas. Sou formado em Coaching pelo ICC e escrevo artigos sobre Métodos Ágeis, Comportamento, Inovação e Coaching. Vejo no lúdico a forma mais profunda de aprendizado. Procuro sempre conduzir reuniões de forma criativa, que tragam algum tipo de aprendizado aos participantes, seja por meio de dinâmicas de grupo ou jogos em equipe. Neste quesito, desenvolvi um jogo, a "Feijoada Ágil", para ensinar conceitos sobre trabalho em equipe. Se você, como eu, também acredita que eu posso te ajudar, deixe-me saber! Vamos tomar um café e, quem sabe, juntos podemos MUDAR O MUNDO!

3 comentários

  1. Parabéns pela matéria!! Eu acredito que o melhor caminho para a visão fora da caixa é deixar de ser executores de tarefas, para ser resolvedores de problemas, para isso precisamos saber com clareza quais são os problemas que queremos resolver, então os sprints passam a ser apenas uma delimitação para resolver determinados problemas no menor tempo possível, isso parece ter relação com a Lei de Parkinson.
    Atualmente estamos misturando várias metodologias e técnicas como: Scrum, GTD, meditação, grupo de cumbuca, CNV, mapa mental e alinhamentos mais profundos do propósito de cada um e da empresa como um todo, e esperamos que isso nos ajude a realizar coisas verdadeiramente boas para o mundo.

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  2. Excelente esse texto. Estou iniciando meu aprendizado sobre metodologias ágeis na Alura, por que tive experiências com os outros modelos de gerenciamento de projeto por cascata e vi uma ótima oportunidade como estudante de Engenharia de Produção mudar os conceitos de gerenciamento na indústria de base.
    Gostaria de ter algum mentor, mas o link do telegrama não está rodando aqui.

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