Mais que “pergunta de entrevista”, os Valores do Manifesto Ágil devem ser vividos pelo time e, idealmente, pela empresa como um todo. Mas como é que eu posso viver valores que não sei exatamente quais são?
Pensar em valores não é algo usual pra qualquer um de nós. Como coach, um dos maiores desafios das primeiras sessões é colocar o cliente para pensar sobre o que o move. Mais difícil ainda é pensar em um conjunto de valores definidos por outras pessoas, que se misturam aos nossos e, muitas vezes, aos da empresa que trabalhamos!
Já entrevistei muitos candidatos à Scrum Master (e fiz outro tanto de entrevistas – afinal, preciso manter o “.com.br” do blog!) e uma das perguntas mais difíceis de se ouvir uma resposta em menos de 2 segundos é:
Com qual dos Valores Ágeis você mais se identifica e por quê?
Assim como não pensamos muito nos nossos valores pessoais, muitas vezes, deixamos de revisitar os Valores Ágeis no nosso dia a dia. Não é desconhecimento, preguiça ou falta de vivência; é apenas um hábito! E, se quisermos melhorar continuamente como agilistas, precisamos promover (e viver) os Valores Ágeis.
Não estou dizendo pra você imprimir o Manifesto Ágil com um layout bacaninha e sair colando loucamente pelas paredes do escritório! Muito menos pedir para que as pessoas decorem cada um deles. Por favor, não faça isso! 🙂
Estou dizendo que precisamos viver e discutir ativamente sobre os Valores Ágeis. Colar uma folha com os valores na parede não é efetivo e cria uma conotação de obrigatoriedade que não é o que queremos. É como se, a qualquer momento, o auditor fosse bater a mão no ombro, sentar ao nosso lado e perguntar quais são esses tais de Valores Ágeis.
Não! Não é isso que a gente quer!
A gente não quer só comida! A gente quer comida, diversão e arte! 🙂
Pensando nisso, fiz uma atividade, não com um dos meus times, mas mesclei pessoas de vários times, que descreverei a seguir…
Imprimi em tamanho grande o suficiente para que todos vissem cada uma das palavras dos Valores Ágeis (e algumas palavras dos Princípios, também, pra dar um desafio maior). Recortei as palavras, misturei e espalhei-as na mesa.
O primeiro desafio daquele time foi justamente Montar o Manifesto Ágil com aquelas palavras soltas.
Foi interessante ver o quanto Valores e Princípios se confundem! Em vários momentos as pessoas estavam tentando montar algum dos Princípios Ágeis, talvez, por serem mais detalhados e tangíveis do que os Valores.
Depois deste primeiro momento, colocamos em discussão o que significa cada um dos Valores Ágeis, o que se ganha e o que se perde dando importância mais para uma coisa que para outra. Quando decidi fazer esta atividade com as pessoas, era essa a minha intenção principal, por que, muitas vezes, olhamos só os ganhos e, muito raramente, enxergamos conscientemente as perdas. E não há nada que leve mais a conscientização do que uma reflexão sobre ganhos e perdas.
Em seguida, o time formado na atividade foi convidado a selecionar dois valores: o que acredita que é mais praticado no dia a dia na empresa; e o que acredita que é menos praticado no dia a dia na empresa.
Por fim, discutimos sobre dois planos de ação:
- O que fazer para continuar praticando o Valor mais praticado;
- O que fazer para vivenciar mais no dia a dia o Valor menos praticado.
A ideia por trás desta discussão, associada à diversidade de pessoas de times diferentes selecionadas para participar tinham um propósito: que cada uma daquelas pessoas levassem uma semente que pudesse ser plantada em seus times.
Como agentes de mudança, precisamos pensar no ambiente organizacional como um todo, apesar de, muitas vezes, sermos absorvidos pelo dia a dia de times específicos.
O amigo Luiz Rodrigues escreveu um artigo contando sobre uma dinâmica muito interessante, que complementa perfeitamente este trabalho de manutenção de cultura, um pouco mais focado nos princípios.
Independente do método que você usa, recomendo fortemente que você, Agile Coach, cutuque regularmente a organização para que reflitam e discutam sobre os Valores e Princípios Ágeis. É importantíssima a manutenção da Cultura Ágil na empresa, para que vocês não entrem em um período de inércia corporativa e não tenham sua Cultura engolida pelas urgências (B.O.’s e pasteizinhos) do dia a dia.