Os Seis Chapéus do Pensamento

Por acaso, achei este post, originalmente de 2014 perdido nos rascunhos do Agile Momentum. E fiquei bastante surpreso comigo mesmo por não ter compartilhado este experimento com meus leitores. Esta foi uma das experiências mais prazerosas da minha carreira como facilitador, quando eu ainda ensaiava dar meus primeiros passos como coach.

Fui convidado para facilitar uma retrospectiva de um dos times da Adaptworks! A sensação é sempre um mix de contentamento, dúvida e até receio: fico contente em ver que os outros times se interessam pelo meu estilo de facilitação, em dúvida se consigo levar a marca registrada das minhas facilitações (o aprendizado) para um time onde não estou envolvido no dia a dia e com receio de todo mundo ficar achando que tudo não passou de uma grande bobagem!

Mas decidi que a vida é um grande laboratório de lições aprendidas e aceitei o desafio!

O time passou por um período difícil, teve a qualidade das suas entregas questionada e passou um bom tempo sem fazer nenhuma forma de retrospectiva. Aliás, acho bastante interessante que alguns times ágeis ainda pensem que, nos momentos de falha, eles devem investir ainda mais em codar freneticamente.

wp-image-675351489jpg.jpgAcredito que seja realmente o contrário: quando o time falha, aumenta a necessidade de parar e olhar para o que foi feito, aprender com as próprias falhas e melhorar o processo.

A primeira coisa que fiz foi entender o momento do time, com a Scrum Master. Pedi que me explicasse com detalhes os problemas que ela identificava no processo como um todo, para decidir qual a melhor abordagem para a retrospectiva. Entendi que haviam pontos positivos, negativos, um grande potencial de melhorias internas e uma grande sinergia entre os membros do time, mesmo que, às vezes, rolasse algum tipo de desentendimento.

Foi aí que resolvi adaptar a dinâmica dos Seis Chapéus do Pensamento, de Edward de Bono. Usei o verbo “adaptar” por que a técnica criada por De Bono é utilizada para analisar um problema, ideia ou situação por diversas perspectivas diferentes, possibilitando uma visão mais abrangente e, por consequência, decisões mais assertivas.

E o time em questão tinha em mãos diversos problemas!

Pela quantidade exata de membros, resolvi que cada membro do time seria o guardião de cada uma das perspectivas: por uma feliz coincidência, no time existiam pessoas capazes de analisar as situações por cada uma das perspectivas sugeridas pela técnica. Então, comecei a ter o cenário apropriado para gerar a discussão e o aprendizado que queria.

inspiracaoDesta ideia dos Guardiões surgiu a forma como resolvi a montagem do “cenário” para aplicação da dinâmica. Cada membro do time seria não só um Guardião, mas um Samurai que defenderia a perspectiva que lhe seria designada. Para criar este ambiente, “pintei” a sala com as cores dos chapéus: colei folhas de cada cor nas paredes, que seriam as estações das perspectivas. fiz origamis de samurais (as lembrancinhas da festa) nas seis cores, que ficaram marcando os lugares.

E fiz também origamis de Chapéus de Samurai, para que nossos Samurais usassem durante a atividade.

Aliás, foi super interessante aguçar a curiosidade das pessoas sobre oque rolaria, por que me tranquei na sala de reunião momentos antes para montar o cenário. 🙂

Na hora marcada, a sala se abriu e todos já estavam esperando (um fato quase histórico) e foram recepcionados pela sala em seis cores, com cartões com os nomes de cada participante.

Expliquei ao time como seria a dinâmica: como foi um longo tempo sem retrospectivas, tínhamos muito o que falar. Tanto que a discussão seria interminável. Sendo assim, analisaríamos o trabalho do time como um todo, independente do tempo. E vamos analisar o time usando um aspecto de cada vez…

Chapéu Azul

O Líder do time ficou com o chapéu do controle. Seria de sua responsabilidade, com o meu auxílio, controlar a dinâmica, trazendo as pessoas para o aspecto em discussão.

Chapéu Branco

O membro mais pragmático do time foi responsável por coletar fatos importantes na história do time. A ideia aqui foi fazer uma linha do tempo, de acontecimentos bons ou ruins (não importa). Fazer esta linha do tempo foi bastante importante para passarmos  para o próximo chapéu…

Chapéu Preto

Todo time tem algum membro que vê as coisas por um prisma não tão positivo. Esta pessoa foi a guardiã dos problemas. Ela ajudou a coletar, baseado na linha do tempo, todos os problemas, fragilidades e riscos do time.

Chapéu Amarelo

Eu realmente curti conduzir esta dinâmica por que consegui evidenciar os traços de personalidade de cada um dos membros do time. Neste momento, solicitamos ao guardião do Chapéu Amarelo, aquela pessoa positiva, de bem, que vê sempre o lado bom das coisas, para coletar os aspectos positivos e benefícios do time. Afinal, precisamos também olhar para o que foi bom! nem só de problemas vive um time!

Chapéu Verde

Até aqui, tínhamos uma linha do tempo, com fatos positivos e negativos. E chegou a hora de sermos criativos e fazermos um brainstorm, gerando ideias para eliminar ou minimizar os problemas e potencializar as coisas boas.

Todo este trabalho foi feito limitando muito bem o escopo do time. Muitas vezes, o time reclamou de algumas posturas do cliente. Mas isto é algo que, infelizmente, não está muito sob o nosso controle. Mas anotamos, nas ideias, algumas formas para tentar gerar empatia no cliente. Em outros itens, pudemos fazer com que o time pensasse no mindset correto para lidar com um cliente, por vezes, difícil.

Chapéu Vermelho

Por fim, o último dos nossos samurais deveria coletar e guardar cartas de reconhecimento aos membros do time. Usamos papéis de carta coloridos, adesivos e tudo mais. O time foi estimulado a ser sincero no reconhecimento e, por fim, se quisessem, poderiam ler em voz alta suas cartinhas.

E todo mundo quis! E as cartas eram emocionantes!

Isso mostrou que, por fim, a dinâmica conseguiu atingir todos os objetivos que planejei:

  • Todos os membros puderam desenvolver o skill da facilitação;
  • Todos os membros do time puderam contribuir com o plano de ação para a melhoria contínua do processo;
  • Todos os membros puderam contribuir com sua característica pessoal mais marcante;
  • Todos os membros do time aprenderam como analisar alguma questão, um lado de cada vez;
  • Todo o time se divertiu depois de um período difícil!

Por fim, todos me pediram para guardarem seus samurais, o que foi bastante legal pra mim, como facilitador. Essa foi uma das grandes experiências da minha carreira, não só pelo reconhecimento, mas pelo aprendizado que foi levado ao time.

Ponto para o lúdico e ponto para um time incrível!!

incriveis

Marcelo L. Barros

Olá! Sou um cara criativo, curioso e detalhista, que, cada dia, mais se vê interessado em desvendar os mistérios desse "bicho gente"! Comecei minha carreira profissional em 1996, sou formado em Processamento de Dados pela FATEC de Santos. Naquela época tudo o que eu queria ter na minha frente era um computador e uma desafiadora regra de negócio, que se transformaria no melhor programa possível. Mas as coisas mudam! Concluí que quem faz software com qualidade são as pessoas e não as máquinas. Hoje, minha MISSÃO é ajudar pessoas e times a alcançarem seus objetivos, pois acredito que o sucesso pessoal e profissional está ligado a três pilares: FELICIDADE, MOTIVAÇÃO e SENTIDO. Como faço isso? 💡 MOTIVANDO pessoas, fazendo-as enxergar o 💡 SENTIDO das suas ações, que traz 💡 FELICIDADE por fazerem a diferença em suas vidas, suas empresas. Sou formado em Coaching pelo ICC e escrevo artigos sobre Métodos Ágeis, Comportamento, Inovação e Coaching. Vejo no lúdico a forma mais profunda de aprendizado. Procuro sempre conduzir reuniões de forma criativa, que tragam algum tipo de aprendizado aos participantes, seja por meio de dinâmicas de grupo ou jogos em equipe. Neste quesito, desenvolvi um jogo, a "Feijoada Ágil", para ensinar conceitos sobre trabalho em equipe. Se você, como eu, também acredita que eu posso te ajudar, deixe-me saber! Vamos tomar um café e, quem sabe, juntos podemos MUDAR O MUNDO!

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