Cavalo de Tróia 3.0

Image courtesy of FreeDigitalPhotos.net
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Na guerra de Tróia, os gregos tentavam desesperadamente resgatar sua princesa Helena. Por mais de dez anos, noite após noite tentavam penetrar os muros da cidade de Tróia sem sucesso.

Até que um dia, exaustos pelos esforços constantes da última década, decidiram que aquela era uma guerra perdida e deixaram na porta da cidade um enorme cavalo de madeira como um presente que oficializava o fim da guerra.
Os troianos entusiasmados recolheram apressadamente o presente levando-o para dentro da cidade e minutos depois foram dormir cheios de orgulho por terem finalmente vencido a batalha.

Horas depois foram acordados com gritos e correram para ver o que estava acontecendo. De alguma forma os gregos haviam invadido e estavam dominando a cidade. Como conseguiram?

Quando tudo terminou e a guerra de fato acabou, os troianos perceberam que caíram em uma armadilha. Os gregos estavam escondidos dentro de seu próprio presente e foram levados voluntariamente para dentro da cidade sem nenhuma resistência.
Mas por que estou contando isso? Bem, o problema da história é que ao contrário de nós, ela não se prende ao passado, sempre se repetindo de formas novas e criativas.

Você consegue pensar em algum presente de grego que você ou algum conhecido recebeu recentemente? Algo que tenha um aspecto positivo na sua vida?
A internet por exemplo. Foi um presente para a humanidade que veio para simplificar a nossa vida quando acessamos o banco on-line ao invés de ficarmos na fila, ou nos enche de vaidade e orgulho quando colocamos uma foto nova no Facebook.

Ironicamente a internet teve nos anos 90 sua própria versão que podemos chamar de Cavalo de Tróia 2.0, que nada mais é do que um arquivo normal como uma foto ou música que em seu código esconde comandos maliciosos que servem para abrir portas e infectar o computador do usuário aumentando fortemente as chances de invasão.

Mas isso era na internet 1.0 na qual conteúdo era rei e a voz do usuário não importava. Na chamada web 2.0 o usuário se tornou o centro de tudo.
A internet permitiu em muitas ocasiões que pessoas sem voz conseguissem se expressar e mudar o código do mundo uma linha de cada vez. Pelo menos isso é o que eles querem que você pense. Não vou negar que essas coisas aconteceram, mas nesse processo algo passou nós.

Na “primeira” versão da Web, tínhamos várias empresas de tecnologia cuja a principal função era oferecer conteúdo, produtos e serviços. A interação do usuário era limitada aquilo que escolhia ou não receber dessas empresas, quer seja a compra que fez, o serviço que usou ou o artigo que leu. Era difícil se expressar em um mundo que todos precisavam ter um site pessoal e saber HTML para escrever uma linha de texto. Não existiam blogs. O máximo que tínhamos eram sites bregas com músicas de fundo em MIDI que só serviam para te assustar e lembrar para deixar as caixas de som desligadas.

Na “segunda” versão da Web, vieram as chamadas “plataformas” que se tornaram mais rápidas que a língua e permitiram a publicação de seus piores pensamentos em poucos segundos sem nem precisar ligar o computador. E pensamento após pensamento, linha após linha, palavra após palavra, o usuário começou não somente a consumir conteúdo como fazia anteriormente, mas também a produzi-lo e o valor dessas plataformas não se pautava na qualidade do conteúdo que produziam, mas no número de usuários que tinham. O usuário sem perceber passou de consumidor a produto.

E agora todos os serviços como Facebook ou Google tentam te agradar de todas as formas, trazendo uma experiência personalizada nas suas pesquisas ou serviços e até descontos de acordo com a cidade onde mora. O serviço é tão eficiente que se você pesquisar os preços de uma pantufa do Fofão verá propaganda dela por semanas mesmo depois de ter comprado. Pode gritar para o Google, para a Siri ou Cortana que você já comprou o produto. Não vai adiantar porque esses sistemas só escutam o que interessa a eles.

Que maravilha essa tecnologia, né? Antigamente se eu queria comprar o disco Oradukapeta do Sérgio Mallandro eu tinha que ir de loja em loja procurando tamanha preciosidade. Hoje em dia é só digitar uma vez que parece até pegadinha o número de propagandas que receberei pelos próximos meses.

Mas essa comodidade toda tem um preço. Para conseguir oferecer uma experiência personalizada eles precisam saber mais sobre você. O Google por exemplo sabe onde você está e consegue traçar todo seu percurso com base nas pesquisas que fez. O Facebook então quer saber até o nome da rede WIFI ao qual você se conecta quando abre o aplicativo. E este bonito celular no seu bolso é um rastreador que você comprou em 12x sem juros no cartão.

Mas por que eles coletam todas essas informações? Para vendê-las aos anunciantes. Pense comigo. Como o Google ou o Facebook ganham dinheiro se você não paga nada para acessar o serviço? Quando seguimos o caminho do dinheiro, normalmente a resposta é mais assustadora do que imaginamos.

Esse é o Cavalo de Tróia 3.0 e o principal recurso é que ele funciona em tempo real. É como se na Guerra de Tróia os troianos ficassem tão distraídos admirando o cavalo que não percebessem que sua cidade, no caso privacidade, estivesse sendo invadida.

E como diz o ditado: “Quem não conhece a história está condenado a repetí-la.”

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