por Marcelo Henrique Almeida
O jogo Flappy Birds foi retirado das lojas de aplicativos. Tecnicamente ele não existe mais. As únicas coisas que sobraram foram a história e as cópias que tentam replicar o sucesso inesperado do jogo.
Mas o que esse jogo tem de especial? Nada. Na verdade ele é o oposto disso. É um jogo ruim com gráficos emprestados de jogos clássicos e com o nível de resposta mais absurdo e descalibrado já visto visto em uma tela touchscreen. E mesmo assim o sucesso foi tão grande que o desenvolvedor foi “forçado a retirá-lo”.
O segredo de Flappy Birds não é o jogo em sí, mas o que ele mostra da nossa personalidade. Quando você tira a jogabilidade e os gráficos do caminho, a única coisa que sobra somos nós e a nossa reação a frustração com um jogo que consegue ser simples e difícil ao mesmo tempo. A possibilidade de passar por mais um obstáculo, apesar do universo estar contra você é forte demais para que você consiga seguir com a sua vida.
A sua queda e raiva duram poucos segundos perto do seu recorde que ficará pendurado para sempre nas paredes do instagram ou outra rede social. Mas a pergunta é? Quanta frustração você conseguirá suportar até dizer chega? E quanto tempo esse sentimento dominará seus pensamentos até que finalmente seja expulso pela sensação da vitória que está batendo a sua porta? A frustação breve com a possibilidade de vitória em doses curtas é o combustível ideal para a motivação. E para o vício também.
E foi exatamente esse o argumento que o desenvolvedor usou para retirar o jogo da internet, o fato dele ser viciante. Pode ser que ele não queira lidar com o assédio, ou pode ser que ele tenha saiba que a pior coisa que você pode fazer com alguém que está “viciado”, é retirar o objeto do vício fazendo com que a pessoa desenvolva sintomas de abstinência, fazendo de tudo para ter o jogo de volta.
Isso deve explicar o fato de termos aparelhos com o jogo instalado sendo vendidos no ebay por preço de um Ford Fusion ou as pessoas instalando versões falsas do jogo com malware sem nem ao menos verificar quem é o desenvolvedor.
De qualquer forma, o fato da rede que alimenta a propaganda exposta no jogo não ter sido desligada ou as dezenas de artigos escritos sobre o tema incluindo este, sugerem que a abstinência é um negócio lucrativo, quer tenha sido causada por motivos nobres ou de forma proposital. Acho que o jeito agora é seguir com a vida como aqueles que não tiveram tempo de baixar o jogo, com planos de longo prazo com recompensas distantes, em busca daquele prazer imediato para fugir do estresse do dia a dia, em outras palavras: Candy Crush.
Porque competir com os outros parece ser menos assustador do que comigo mesmo.

Marcelo é apaixonado por cultura e tecnologia e sempre que pode mistura os dois. Escreve artigos e livros para mostrar que existe cultura além do pop e tecnologia além da Apple.
Contato:twitter.com/mhalmeida
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