_ Não acho que o Sr. Rufos vai encarar essa mudança toda! Ele é uma pessoa muito ligada ao modelo tradicional! Não podemos convencê-lo a mudar! Pelo que conheço, ele vai achar isso tudo uma grande bobagem!! Na primeira dificuldade, tudo vai por água abaixo!
E foi assim que Cody entrou na sala: ofegante e certo de que a iniciativa de agilizar o trabalho do bando não funcionaria por causa do que ele acha que o seu gerente pensa.
É certo que as iniciativas ágeis encontrarão resistência em menor ou maior grau. Mas, muitas vezes, a resistência está em nós mesmos. Nós que temos um comportamento aprendido no mundo corporativo e que, bem ou mal, está funcionando. Ousar é muito difícil. Aprender a se comportar de outra maneira não é tarefa das mais simples! Até mesmo sem querer algo pode ser o gatilho para voltarmos a nos comportar de acordo com o velho hábito.
Criar uma nova cultura organizacional também não é fácil. É um trabalho de jardineiro, que precisa todos os dias regar para que suas plantas cresçam. Por isso, não adianta muito um grupo de pessoas fazer alguns cursos e pensar que já estão prontos para o ágil. O (árduo) processo de implantação requer o acompanhamento de um coach ou mentor que esteja próximo dos times. Orientação de quem conhece e apoio dos superiores são essenciais.
Cody, por exemplo, tem o perfil do agente de mudanças. Ele sente que as coisas podem ser diferentes. Mas ninguém é um poço de segurança 24hrs por dia! Todos nós, no processo de mudança (ou em algumas nuances da vida particular), precisamos de alguém que nos leve de volta para o caminho quando queremos desistir. Todo processo de mudança precisa de alguém que esteja próximo às pessoas, entendendo e trabalhando seus medos e angústias; comemorando suas vitórias; ajudando a alcançar as metas.
É isso que Cody precisa agora… Alguém que o ajude a focar no seu objetivo e, principalmente, ajuda-lo a ter certeza de que é este mesmo o caminho…
Então, Cody, esta empreitada, na sua visão, não dará certo. É isso?
_ Não! Eu acredito neste modelo! Eu acredito que todos juntos podemos gerar mais valor para o nosso negócio! Estou certo que meus pares vão gostar muito mais de trabalhar desta forma e que a produtividade aumentará bastante!
Mas qual é o problema, então?
_ O Sr. Rufos, nosso gerente! Ele é muito tradicionalista! Ele acredita que as nós não gostamos de trabalhar e só o fazemos pela força da sua gestão! Alguém teria de ir até lá e convencê-lo a mudar!
E quem te convenceu que esta forma nova de pensar faz sentido?
_ Ninguém! Na verdade, eu mesmo! Estudei bastante, ainda estou estudando… Mas tudo o que li me levou a acreditar que o empoderamento dos times é a saída!
E por que alguém tem que convencer o Sr. Rufos de alguma coisa? Por que ele não pode ser convencido por ele mesmo, assim como você?
_ Por que ele não é assim! Ele é antiquado!
E você, é preconceituoso?
_ Não!
Então por que está traçando um perfil completamente negativo do Sr. Rufos? Não foi ele quem autorizou você a estar aqui, aprendendo?
_ Mas é diferente! Eu não vou querer fazer o Sr. Rufos acreditar em uma metodologia inovadora, correndo o risco de dar errado! E se der errado…
Então é medo?
_ Não… É… Pode ser…
Do que?
_ De falhar. Talvez… De falhar com o time. De falhar com o Sr. Rufos…
Metodologias ágeis são tolerantes à falha! Isto significa que as pessoas envolvidas também devem ser tolerantes. Afinal, quem faz essa coisa toda funcionar são as pessoas. Enquanto agentes de mudança, temos que ter sempre em mente que podemos nos enganar, podemos levar o barco para uma tempestade. Mas, se todos estiverem no mesmo barco e todos puderem opinar, você não acha que as nuvens poderão ser vistas muito mais cedo?
O processo de mudança envolve todos de uma forma muito profunda, muito engajada. Todos devem querer o bem do time. As vitórias pessoais devem ser esquecidas. Também não se pode agir ou deixar de agir por conta de suposições. Infelizmente não é possível prever as reações das pessoas. Somos imprevisíveis e é isso que nos faz únicos.
O Cody não está errado nem está sozinho! Eu mesmo, quando fui apresentado às metodologias ágeis não acreditei que aquilo funcionasse, por mais que fizesse sentido. Não por mim, mas pelos outros. É tendência natural de qualquer um realizar um julgamento do outro. Preferimos julgar a questionar ou ouvir o outro. E esse é o primeiro inimigo que deve ser combatido.
Você prefere ser um agente de mudanças ou prefere reclamar pelos cantos? Você quer contribuir com a construção de um futuro melhor ou prefere continuar batendo na mesma tecla, sem saber por que faz isso? Qual das alternativas seria mais gratificante? Qual poderia trazer a maior recompensa?